Eram duas da manhã quando Carol não se aguentou mais na cama. Levantou num salto e abriu o guarda roupa afim de tirar qualquer coisa para vestir e poder enfrentar a madrugada. Estava decidida, não suportava ter de continuar ali, inerte, esperando que as horas passassem, esperando um nunca mais. Enfiou-se num jeans qualquer e numa blusa. Saiu de casa no maior silêncio, levando no bolso as chaves e esperança. Correu por três quarteirões, cruzou uma avenida e percorreu mais algumas ruas, porque seu objetivo valia o esforço. Até chegar em um pequeno edifício de 3 andares. É óbvio que a porta do térreo estava trancada, mas havia luz na janela onde tantas vezes esteve sentada. Carol, não podia gritar, não podia subir, não trouxe celular. Jogou uma pedra, duas, três e não acertava. A verdade é que estava nervosa, sozinha numa rua deserta, a mercê de qualquer coisa. Na quarta ela acertou. E não muito depois, um rapaz abriu a janela.

- O que você veio fazer aqui? - ele disse arrastado, como se não quisesse perguntar aquilo.
- Eu não sei o que vim fazer. Mas sei que te amo. - ela respondeu com os olhos desmanchando-se em lágrimas.
- Poxa, Carol, porque você fez isso comigo? Porque tá fazendo com a gente?
- Eu ainda não consigo suportar a ideia, Marcos. Dói demais no meu peito saber que você vai embora tão assim. Não sei se vou suportar viver sem você.
- Carol, se convença. Eu te amo, mas não tenho como ficar aqui. Se meus pais vão, vou ter que ir. É claro que eu queria ficar com você, é claro que eu quero continuar aqui. Quero beijar você e passar tardes e tardes deitado na grama daquele parque que a gente costumava ir. Mas não dá, amor, não dá. Quando disse que não queria mais te ver, e te explique porquê, era justamente por causa disso. Eu parto daqui a algumas horas e você sabe disso. Para de machucar a gente, vai pra casa.
- Eu não vou sair daqui. - ela falou entre soluços, completamente decidida.
- Carol, é melhor a gente esquecer essa última noite.
- Como eu vou esquecer você, Marcos? você jurou que me amaria pro resto da vida, que casaríamos e que nós mesmo pintaríamos nossa casa. Fizemos planos, Marcos, fizemos planos! Você me liga a dois dizendo que vai para Bielorússia e que eu não ligasse mais pra você. Como assim vai pra outro país? Como assim não ligar mais pra você? Onde foi parar o felizes para sempre? Juro que tentei me conter, seguir o que você disse, mas não dá. o que eu sinto é amor, Marcos! Eu não posso contra isso. - Carol finalizou já em estado de desespero.
- Eu também não posso. Você acha que foi fácil dizer aquilo, com você soluçando no telefone perguntando porquê? A verdade é que eu não penso em outra coisa sem ser você. mas diz aí, o que é que a gente faz? Foge? Se revolta? Se mata? A gente tá no mundo real, Carol. Meus pais tão indo pra lá, tenho que ir também. Talvez eu volte, mas como vou saber? Iludir você e a mim fingindo que tudo vai ficar bem? A probabilidade é muito pequena. Carol, eu te amo, não duvide disso, mas vá pra casa. - ele terminou, e fechou a janela.

Carol jogou a quinta, a sexta até a vigésima pedra. E a janela não abriu, ele não voltou. E por mais que ela esperneasse, e gritasse, e chorasse, e implorasse e fizesse o que fosse naquela calçada suja, nada havia de acontecer, nada havia de mudar. Porque amores se fazem e se desmancham todas as noites. E digam o que disser, o amor é uma coisa sem porquê. 


[Texto retirado de: Contos Fraqueados, Cristiano G.]

Carol Rodrigues   . 

2 comentários:

Daza Moreira disse...

Achei o endereço do blog hoje e já estou adorando. Parabéns, porque é muito bom mesmo! E pra conheceram também um pouco que eu escrevo, é só dar uma passadinha lá no meu Edifício no meio do mundo:http://dazamoreira.blogspot.com/

. mais do que palavras disse...

obrigado Daza, é mto bom saber que você gosto *-* já estou te seguindo lá, bjs ;*

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