Ao homem da minha vida;


São José, 22 de maio de 2000.
Meu querido pai, já faz 1 ano que não nos vemos e o senhor não sabe como essa saudade dói, chega a me amargurar por dentro, não sei se de culpa ou o mais puro amor que anda me invadindo nesses últimos tempos. Como adolescentes são tolos não é mesmo, temos o melhor e não sabemos disso, quando passei por essa fase fui igual a quase todos aqueles adolescentes fúteis, não compreendia nada e nem ninguém. Um dia eu cheguei a pensar que sem alguém eu viveria mais feliz, sim pai esse alguém é mesmo você, era tão medíocre que achava que o senhor não era preciso para nada, sempre guardei meus sentimentos bem escondidos, não os permitia nem para mim, talvez seja por isso que nunca trocamos um eu te amo, éramos cabeça dura. Hoje entendo realmente que o senhor era um exemplo para mim e para meus irmãos, e que tudo que fazia, as ironias e reprovações, era para o nosso bem, somente para que crescessemos cada vez melhor e sabe pai, ao invés de aprender isso contigo quis aprender da pior maneira possível "dando de cara com o muro". Sei que eu tinha tudo para ser a menina mais compreensível e feliz de todas, mais o que eu sabia da vida, só acha que o mundo estava dando as costas para mim, custei a entender que quem estava de costas era eu mesma. Sinto saudade daquela velha casa azul que morávamos, todos juntos, tinha um trabalho um tanto bom e uma família exemplar, mas eu me achava a ovelha negra da família, quem nunca achou que um pai nunca repreende por maldade. Hoje aos meus 25 anos entendo que o senhor queria mesmo era me educar e me preparar para o mundo, coisas que entendi tarde demais. O arrependimento é o que mais tem doido dentro de mim, precisei perde-lo para perceber o quão importante era na minha vida, alias foi você que me deu tudo que eu tinha, e eu nunca disse um adeus, eu nunca disse o que eu realmente sentia, sei que hoje não tem como mais entregar essa carta, pois você se foi, assim sem nenhum aviso, talvez por tristeza ou para realmente me ensinar o valor que tenha a família, que ela é quem construi carater, não baladas, amigos, shopping ou festas, nada disso é tão importante quanto a verdadeira família. E depois do seu falecimento fui obrigada a me mudar repentinamente, assim para me livrar das lembranças, sim tenho lembranças boas, me lembro que fingia dormir só para vê-lo ir ao meu quarto e me cobrir naqueles dias de tempestades, ou quando sentava e ficava me vendo dormir. Desculpe pai, por não ter sido a filha que sei que poderia ter sido, por não ter sido compreensiva e estar sempre com sete pedras na mão, quando dizia me deixe em paz na verdade o que eu queria era dizer eu te amo, e toda vez que olho para o lado e vejo um pai e um filho se abraçando, choro, choro por saudade e por amor demais que ficou guardado aqui no peito. Não pai, eu não desisti dos meus sonhos, apenas ao longo da vida senti necessidade de outros sonhos que estava nascendo em mim e precisa passar essa minha experiência para frente, pelo menos tentando e dizendo a cada adolescente para dar valor a família, principalmente aos seu pai, pois hoje aqui sem o meu sinto falta de sentar no colo de alguém para ouvir histórias sinto falta de tudo que devia ter feito e o orgulho não me deixo. Engraçado que quando me mudei fugindo das lembranças elas só me perseguiram mais, e por isso estou aqui sentada em frente a sua sepultura escrevendo essa carta onde deixarei e espero que saiba que eu amo você, por que um dia o senhor me disse que nunca se é tarde demais para aquilo que realmente se quer, e o que eu quero na verdade eu sei que não volta, mais posso dizer que o senhor foi tudo na vida de uma garotinha que hoje sabe o valor de um grande homem. Obrigado pai, por me ensinar tudo que sei, por me dar carater e por ter tido tanta paciência com uma jovem que o ama e sempre o amou. Afinal a família realmente é o berço da nossa sociedade, o nosso santuário da vida. Pai sinto tanta a sua falta que sinto a sua presença a cada dia, aqui dentro de mim, Eu te amo.
Um grande beijo,
De sua querida Filha.

[Texto para Bloínquês - 22ª edição carta e OUAT - 60ª edição musical]
                                      Carol Rodrigues ;*

5 comentários:

Yasmin disse...

que linda carta ;)
eu nem consigo falar direito do meu pai sem me emocionar. Ele é TUDO que eu tenho e acho que não faria nada sem ele. Parece estranho eu dizer isso, mas meu pai é tudo de mais valioso que eu tenho.
Te amo, pai s2 AIUSAISUIAS

:*

Gabriele Santos disse...

ouu que lindo.
Realmente me encontrei em algumas partes desta carta. Eu amo meu pai,mas acho que em 18 anos de vida só o disse isso umas 3 vezes. Conversamos pouco, mas semrpe que tenho um problemas é a primeira pessoa que eu penso em procurar.

Raíla B disse...

Mt lindo e emocionante... Infelizmente nós precisamos perder para aprender a dar valor. É sempre assim, faz parte da vida. Eu me sinto mt parecida com a menina da história, porque eu e meu pai mal nos falamos... Mas um dia tudo vai se resolver.
Espero que seja logo.


carta linda. beijo.

. mais do que palavras disse...

obrigado queridas *---* fico muito feliz mesmo que tentam gostado, acho que toda adolescente já teve uma briga com o pai né ;x

Pam Dal Alva disse...

Muito bom!!Parabens por ter ganhadoo. kisu

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