and the reason you


Perdi o sorriso em uma curva de estrada, estatelado em um poste descascado, meio pintado de cal. De resto, as estrelas, estavam amarelas, intensas demais em uma noite que não deveria ter sido escuridão. O breu me assustou e tive medo do escuro por meses seguintes e, te confesso, ainda não me acotumei com a falta de claridade que certas noites tem. Aquele dia, eu morri um pouquinho.E o que não havia morrido dentro de mim, eu matei com o passar dos dias, com o suportar as horas e com os intermináveis momentos de silêncio que me acompanharam tempo demais . Te contei também não? Não gosto do silêncio que grita, da voz que não chega e do celular  que não toca. Quando o silêncio não te é amigo, ele te enlouquece, te destrói .

Suportei-o tempo demais. Foram meses de quietude , escuridão e sorriso perdido. Eu sempre via meu rosto triste, estampados em rostos passados e as lágrimas transbordavam tímidas, vindas lá de dentro do coração. Me proibiram chorar, te falei ? É, sempre que sentia os olhos marejados, engolia a chuva antes que transbordasse e ensaiava um riso que havia perdido, estatelado num poste.Vago, vão, vão, vão. Minha tentativa sempre fora vã até que, de repente, eu desisti de tentar. Larguei o peso do mundo, transbordei por noites seguidas e deixei a luz da vela acessa.Algo mínimo de claridade no fim do meu túnel interminável. Ainda era escuro e breu e todavia noite, mas eu resolvi arriscar . Olhei fixo no ponto de luz à frente, dei passadas largas  e derteminadas e mergulhei, respirando fundo, no clarão que me recebeu, de braços e peitos aberto. Sem pestanejar.

Era tudo muito azul,claro e confortável. Entende, moço? Vivi no escuro por muito tempo e, quando fugi, dei-me no seu olhar de céu claro, de paz iminente e me acolhi no teu abraço de conforto, de esquecimento do mundo. Ali, achei meu sorriso perdido e até ousei perguntar se você o tinha achado na  curva de uma estrada, já nublada em minha mente. Tu sempre me sorrias e teu silêncio não me enlouquecia. Eu precisava de alguém que me devolvesse o riso, de um corpo que escondesse  meus pecados  e de um sopro de vida, de uma levesa nos ombros e de um caminhar. De uma razão pra  tocar adiante, de uma mão para me guiar e de uns esparadrapos que me juntassem, de forma não me deixar perder no caminho. E tudo, tudinho, eu encontrei quando esbarrei semquererquerendo nesse teu imensidão de mar. Hoje, sou, de novo, inteira. E tua, pelo tempo que nos fosse necessário.   [Palavras e Silêncio]
                                         

                                                                      Karol Ribeiro

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